sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Espíritos e assombrações milenares?

O prólogo da segunda edição completa do terceiro volume do livro As Musas do Terceiro Milênio (asM3M) parece fazer referência a um espírito ou assombração milenar... entretanto o conto central tem pouca conexão direta com os fatos apresentados tanto no início do livro quanto com os fatos apresentados no epílogo. Assim como o volume 3, os volumes 1 e 2 da série apresentam personagens que se juntarão aos demais no volume 4. A postagem de hoje destina-se a apresentar o prólogo conforme segue:

*** ANGéLICA ***
Era uma loja pequena no centro de Canoas, dessas que vendem de tudo.
Quando entraram na loja o atendente veio avisar que era hora do lanche, pedindo desculpas por estar sozinho e avisando que, se entrasse mais algum cliente no estabelecimento, ele teria de que se desdobrar para atender o casal e a filha de seis anos de idade.

Righter acenou e informou que estavam apenas buscando por pilhas para colocar no brinquedo que a filha tinha ganho de aniversário. Iam fazer uma viagem à serra gaúcha e precisavam garantir que o brinquedo funcionasse ao longo do percurso de duas horas. Pelo menos durante a pequena viagem, lá poderiam dar jeito de adquirir outras caso fossem necessárias.
O vendedor ficou atendendo Righter enquanto mãe e filha vagavam entre as estantes da loja, quando a menina pediu à mãe que levassem uma boneca nova, de pano, daquelas que podem servir até mesmo como travesseiro, principalmente para se recostar no banco traseiro do carro.
O pai pagou pelas pilhas e pela boneca e deixaram a loja para embarcar no carro. Seguiam pela estrada tranquilamente, quando a mãe perguntou para a menina como batizariam a nova boneca. Todas as bonecas da menina tinham nome e eram batizadas em conjunto por mãe e filha. Por vezes, passavam horas selecionando nomes, a partir de longas listas confeccionadas entre sorrisos e considerações pertinentes à personalidade e características dos potenciais homenageados. Pois a lista era confeccionada a partir dos nomes de coleguinhas da escola, professores, personagens de desenhos animados ou mesmo elementos inanimados que lembrassem a boneca ou boneco da vez.
Mas desta vez foi diferente. Quando a mãe olhou pelo vão entre os bancos dianteiros em direção à criança que estava acomodada na cadeira fixada no meio do banco traseiro do veículo, aguardou a resposta e ouviu a menina singelamente retornar:
- Ela se chama Angélica.
A mãe perguntou:
- Quem é Angélica? Acho que não conhecemos nenhuma Angélica... A do desenho animado que vimos no cinema? Mas ela é meio que malvada...
- Não, Angélica como a moça da loja... ela disse que eu poderia levar a boneca se a chamássemos de Angélica.
- Tudo bem, filha. Pode chama-la de Angélica... Angélica lembra anjo: angelical.
A mãe ficou pensando por algum tempo, quando um chamado cortou o silêncio como uma navalha cortando o ar e aqueles pensamentos.
- Pai!
- Sim, filha.
- A Angélica pode entrar na nossa casa quando voltarmos do passeio?
- Claro que pode, filha. Claro que pode...

*** CONVERSAS NOTURNAS ***
Quando Righter acordou, não teve problemas para identificar a voz da filha de seis anos no meio da noite. Olhou no relógio da parede, eram três da manhã e a conversa no cômodo adjacente prosseguia em um tom animadíssimo. Estranhou de pronto a situação e erguendo o tronco de sobressalto, sentou na cama. Levou a mão buscando o outro lado da cama e tateou o ombro da esposa que ainda dormia pesado. Ainda sentado, tentou calçar os chinelos que havia depositado displicente ao lado da cama, sem sucesso por um breve momento na escuridão, optou por prosseguir levantando o corpo e deixando a cama descalço mesmo.
O homem chegou à porta e olhou em direção ao quarto da filha sem mesmo entrar no corredor que separava os cômodos. Aguçou a audição e a conversa continuava em ritmo festivo, mas não conseguia perceber outra voz além da voz da filha. Em passos acelerados, um instante antes de entrar no quarto da pequena a conversa cessa sobrenaturalmente, como se tivesse sido previamente detectado como um intruso indesejável no perímetro de uma roda social que não lhe desejava por perto. Entrando no quarto enquanto simultaneamente acendia a luz institivamente, Righter percebeu a filha sentada com a Angélica no colo.
- Filha, não conseguiu dormir? Tudo bem contigo?
- Sim, papai.
A menina respondeu sorridente e abraçou a boneca junto ao rosto.
- Que conversa toda era aquela?
- Eu estava conversando com a Angélica. Ela já viu o mundo todo...
O pai olhou atento embaixo da cama, dentro do armário, atrás das cortinas... checou a janela diante dos olhos atentos da menina, sem deixar o quarto. Pediu à menina que dormisse porque ela tinha aula pela manhã e precisavam acordar cedo. Após verificar todas as janelas e portas dos demais cômodos do imóvel, voltou ao quarto do casal somente depois de ter aberto todos os armários e verificar todas as cortinas do apartamento.
O pai não cerrou mais os olhos e ficou tentando lembrar da conversa da filha, qual era mesmo o assunto? De repente se percebeu ouvindo trechos inteiros da conversa, mas parecia um pouco mais adiantada. Combinavam um passeio com outros amigos cujos nomes não lhe eram familiares... Outros amigos? A filha perguntava sobre cada um deles à Angélica... como eram e o que gostavam de estudar e de que gostavam de brincar... em um estado pós-transe, Righter percebeu que aquela parte da conversa não tinha acontecido... estava acontecendo. Ergueu-se da cama, chamando a esposa que acordou... ao chegar no quarto ao lado ouviu a filha dizer:
- Eu disse que ele ia voltar... você não conhece o papai.
Righter acendeu a luz instintivamente como da primeira vez, entretanto a filha estava deitada, ainda sorridente.
- Filha, tudo bem contigo?
- Sim, papai!
- Conversando com a Angélica novamente?
- Sim...
A mãe entra no quarto e o pai prossegue:
- Pois diga para a Angélica que você precisa dormir porque é você que tem aula amanhã e que ela pode ficar em casa dormindo até mais tarde. Então, trate de dormir...
- Mas eu avisei a Angélica... ela disse que não tem problema se eu não for para a aula porque a professora vai ensinar coisas que eu já sei... já a Angélica vai trazer outros amigos aqui para me ensinar coisas que eu não sei...
- Bom, se você já avisou: ela está avisada. Vou levar a Angélica comigo, ela vai dormir no sofá da sala hoje...
A esposa dá boa noite para a filha enquanto que o pai inspeciona novamente o quarto e as entradas da casa, terminando por deixar a boneca no sofá da sala.
O silêncio volta a reinar no imóvel e os seres humanos dormem tranquilamente sem maiores incidentes ao longo da noite.
Na manhã seguinte, o pai levou a filha para a escola logo após o café da manhã. Havia comentado com a mãe a respeito do grande negócio que fez para conseguirem dormir com tranquilidade ao transferir a boneca para o sofá. Já na hora do almoço, enquanto o pai trabalhava na cidade vizinha, mãe e filha chegavam em casa da escola para que pudessem fazer a refeição.
A mãe vê que a criança está entretida com o aparelho de televisão da sala e a convida para a mesa da cozinha. Ao passar pelo sofá ela sugere:
- Você não quer levar a Angélica para a cozinha?
- Mas, ela já está lá...
- Não está, não, querida. Seu pai a deixou aqui no sofá ontem à noite...
A mãe entregou a boneca para a filha e seguiu em direção à cozinha para desligar a panela de pressão, sem poder ouvir a última frase da conversa que tiveram.
- Não, mamãe... ela passou a noite inteira ao meu lado para que eu não passasse a noite sozinha.

A menina abraçou a boneca junto ao rosto novamente e sentou-se na mesa a aguardar pelo seu prato.


*** A VISITA ***
As conversas noturnas continuaram a ocorrer, sempre muito animadas, mas agora havia um toque de recolher às nove horas da noite.
Nesta noite de sábado a família visitava a casa dos avós. Os pais de Righter contavam sobre os acontecimentos da semana quando a neta, com a boneca no colo, pediu para voltar para casa. A vó retrucou:
- Mas já... ainda é cedo, pequena.
- Vovó, já são quase nove horas e não vou poder conversar com a Angélica depois desse horário.
Righter intercedeu:
- Mas, filha, você passou o dia todo com a boneca e não trocou uma palavra com ela... vai querer me dizer que vai conversar com a Angélica só depois que chegar em casa?
- É que a Angélica fica muito brava com você quando não nos deixa conversar, papai...
- Tudo bem, filha, você pode conversar com a Angélica por meia hora logo após que chegarmos em casa.
A menina aceitou e ficou um pouco mais calma... Na hora de se despedirem a menina já estava dormindo. O pai a colocou ainda dormindo na cadeira afixada ao banco de trás e seguiram para casa. Quando chegaram, a conversa animada durou por mais meia hora conforme o combinado e tudo parecia bem. Nas noites seguintes também... o toque de recolher era respeitado e o silêncio estabelecido no lar para que a família pudesse descansar tranquilamente até a manhã seguinte.
Era sábado novamente e passaram na casa da vó a caminho do shopping center. Nem chegaram a descer do carro. Os avós conversaram brevemente com os pais da menina que aguardava no banco de trás folheando um dicionário ilustrado destinado a crianças que estão sendo alfabetizadas. Quando iam partir a vó pediu:
- Aguardem um instante...
Para a surpresa de Righter a vó traz consigo a Angélica e entrega à criança que agradece pela janela da porta traseira do veículo. Com um sorriso meio sem jeito ele avisa:
- Mãe, essa boneca ela já tem...

- Não, filho... é a boneca dela que ficou aqui no outro sábado... ela saiu daqui dormindo e a esqueceu conosco...

Righter mal conseguiu realizar as compras dos itens que foi buscar no shopping, comeram um lanche rápido e retornaram para casa... Saindo do carro em direção à porta do apartamento térreo, o pai perguntou:
- Filha, com quem você tem conversado à noite?
- Com a Angélica, ora...
- Filha, a Angélica ficou na casa da vovó... com quem tem conversado à noite?
- Com a Angélica, a moça da loja... que deu o nome à boneca.
Righter estava começando a ficar nervoso...
- Que moça da loja, filha?
- A moça com o olho rosa... a que pediu pra gente colocar o nome dela na Angélica...
- Ela tem os olhos cor-de-rosa?
- Não, papai... um olho é rosa... o outro é azul...
- Filha, a Angélica está onde?
- A boneca?
- Não, a boneca está na minha mão. Onde está a moça da loja? Ela está aqui em casa agora?
- Não, papai, ela só vem à noite... depois da hora da janta...
- E ela vem sozinha? Ela queria te apresentar uns amigos... nunca dê permissão para ninguém entrar aqui...
- Ela sempre pede, mas eu nunca deixo...
- Perfeito, continue assim. Mas como a Angélica entrou aqui?
- Pela porta.
- Não, quem a deixou entrar?
- Você disse no carro que ela podia entrar quando voltássemos do passeio...
Righter parou por um momento, pensando... e lembrou do dia em que compraram a boneca.
- Sim, filha: tem razão. Mas, não deixe mais ninguém entrar aqui...
- Tá bom, papai... mas a Angélica sempre fica brava quando eu não deixo e que pode fazer coisas ruins com o mundo... e com vocês...
- E contigo, filha? Ela não fala nada sobre você?
- Não, ela apenas fica rangendo os dentes e rugindo como o leão do zoológico... só que um leão de cabelo roxo...
- Escuta, filha... se ela vier hoje depois do jantar para nos visitar: me avisa, tá? Fica junto do pai e da mãe na sala, tá bom. Não sai daqui... vamos passar o dia juntos hoje...
- Tá bom, pai...
A mãe ouviu tudo atentamente e não interferiu no rumo da conversa... parecia tudo muito estranho...
Quando eram sete da noite, a mãe serviu o jantar e o pai perguntou:
- A Angélica está aqui filha?
Pegando uma fatia de torta fria a filha respondeu:
- Não, pai... só nós...
Perto das oito horas da noite a filha alertou:
- Pai, a Angélica está aqui...
- Filha, pede pra ela ir embora e não voltar mais, porque ela precisa procurar alguém que ajude ela ou se juntar aos amigos dela. O que ela gostar mais...

A menina repetiu as palavras do pai e disse:

- Pai, ela ficou muito brava... mas disse que vai embora...
- Pra sempre?
- Acho que sim... nem deu tchau... virou e desapareceu.
Righter se sentiu aliviado, ainda que um pouco apreensivo... não sabia se seria uma solução permanente ou por quanto tempo ia durar.
Righter pediu para que a filha dormisse junto da mãe no quarto do casal, enquanto passou a dormir no quarto do lado... nas primeiras noites a partir de então, mal dormia... depois, passou a dormir pesadamente, sempre vencido pelo cansaço.
Passada uma semana, Righter, que diariamente perguntava para a filha se havia tido algum contato com a Angélica, sempre recebia a resposta em negação. Por vezes perguntava mais de uma vez ao longo do dia...
A filha parou de dormir junto da mãe e o casal voltou a dormir no quarto grande. De volta ao pequeno quarto, a filha perguntou se podia dormir com uma boneca para não se sentir sozinha. O pai disse que sim. Ela prontamente pegou uma de suas Barbie e foi deitar.
Na semana seguinte, sobressalto. No meio da noite, Righter acorda e ouve uma conversa animada no quarto da filha. Ele corre em direção ao quarto, no escuro, sem chinelos mesmo... já havia visto aquele filme antes...
Ao entrar no quarto encontra a filha sentada, pôde ver ainda no escuro a Barbie nas mãos da menina...
- Com quem está conversando filha?, perguntou, temendo pela resposta.
- Com a Barbie.
Righter ficou aliviado... acendeu a luz.
- O que vocês estavam conversando?
- A gente tava combinando a festa de aniversário dela aqui em casa, vai ser na semana que vem.
-  Tudo bem, filha... com a Barbie pode conversar... Já faz tempo que estão conversando, filha? Está muito tarde...
- Há algumas noites, papai.
- Engraçado, só ouvi hoje... não tínhamos combinado que essas conversas tinham que terminar as nove da noite?
- É que achamos que o senhor não estava mais bravo com a Angélica... ela acertou... disse que se eu a chamasse de Barbie você ia deixar ela me visitar e passar as noites aqui comigo e que poderíamos falar até mais tarde que você não iria se importar...

<<< continua no volume 4... >>>
Próxima Página: http://asm3m.blogspot.com/2018/11/asm3m-vol3-ed2-pags26-e-27.html




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